quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Polêmica

Qualquer um que se proponha a resolver um problema, qualquer que seja a sua natureza, precisa estar disposto a observar os diferentes aspectos que fazem parte da questão. Fazer isso implica analisar, pesar, verificar, examinar e re-conjecturar, se preciso, cada uma das hipoteses que se tem sobre a questão. Esse processo pode ser simples ou complexo, de acordo com o problema que estamos lidando e o tipo de escolhas que estamos dispostos a fazer.

Acontece que em diversos ramos importantes da vida humana os problemas que se apresentam estão intimamente ligados a pontos de vista e as soluções adotadas tem implicações importantes na vida das pessoas. Em geral, assuntos realmente relevantes estão cercados de tabus, preconceitos, opositores, defensores, etc... Atores que, muitas vezes, fazem menos por ajudar a resolver o empasse do que fazem por tentar fazer valer sua própria opinião sobre o tema: politica, liberdades individuais, ética médica, religiosidade (ou não), orientação sexual, drogadição. Inumeros são os exemplos e não conheco quem não possua opiniões sobre esses e outros temas, nos mais diversos sentidos.

Hoje a noite, assistindo um dos blocos do debate dos candidatos ao governo do estado, no qual faziam perguntas sobre saúde, surgiram questões sobre as drogas, questões sobre politicas públicas referentes aos usuários de drogas, apoio ao dependente para desintoxicação, etc. Porém, é fato que esse tipo de questão está no meio de uma nuvem de opiniões divergentes dos diversos setores da sociedade, muitas dessas opiniões sem qualquer conhecimento técnico da matéria, setores esses que votam nessas pessoas, fato que molda os discursos e as propostas desses canditados e de certa forma os amordaça ou aprisiona em determinados pontos de vista.

Grande parte da sociedade é conservadora em relação aos problemas relacionados as drogas. Seus efeitos, seu "público", os problemas que causam direta e indiretamente. A maior parte da informação que recebem vem diretamente dos meios de comunicação de massa através de noticias, quase sempre ligadas crimes de roubo, assassinato, corrupção, doença, tragédia! Palavras bem fortes, bem reais, bem concretas... (quase) inquestionáveis. Porém, o assunto não é problematizado. É como se fosse uma guerra, onde não cabem aos soldados (população) discutir estratégia com seus superiores (empresarios, emprensa, elite politica, igreja(s)). Você TEM que aceitar a versão oficial. É burrice pensar que pode ser diferente. Que a causa da mazela pode ser outra. Você tem que conversar com os seus filhos, evitar as más companhias, evitar que eles vão a raves, danceterias, shows de rock, reggea, etc.

Porém, apesar disto, pessoas que não devem assistir aos mesmos noticiarios tem posturas muito diferentes sobre algumas destas drogas ilicitas. Médicos fazem pesquisas sobre possiveis efeitos medicinais de diversas drogas, como o LSD e a maconha. Receitam a seus pacientes o uso terapeutico da cannabis para fins de redução de stress, aumento do apetite, etc. Recebi um email há poucos dias com um editorial publicado na Zero Hora do dia 01/08/2010, por Marcos
Rolim (marcos@rolim.com.br), onde era citada uma pesquisa com jovens dependentes de crack onde, ao longo do tratamento eles usaram maconha, em lugar de crack, e os resultados indicados na pesquisa são fabulosos: 68% dos dependentes trocaram o crack pela maconha e destes, depois de três anos, todos haviam parado com a maconha também.

Não estou aqui advogando contra ou a favor, mas propondo algumas reflexões:
  • Será que as políticas públicas anti-drogas que temos estão certas?
  • Se estão, por que parecem não estar funcionando?
  • Será que todas as drogas são igualmente nocivas?
  • Será que alguém que usa drogas é ou está a caminho de ser um marginal, invariavelmente?
  • Ou será que, regulamentadas e devidamente analisadas do ponto de vista técnico e médico, preferências como usar maconha não podem ser apenas parte do gosto pessoal de alguém, como quem gosta de beber vinho acompanhando um bom prato de macarrão, ou quem gosta de apreciar charutos ou martini ao fim da tarde?
Pensar não dói!