sábado, 30 de junho de 2012

A importância da escrita para a comunicação entre os povos


É quase uma redundância escrever sobre a importância da escrita para comunicação entre os povos, talvez bastasse apenas enumerar as ferramentas de comunicação que a utilizam como principal veiculo de transmissão de ideias. Mas talvez haja ainda alguns pontos para observar sobre o porque esta forma de comunicação se consolidou e se tornou tão importante.

O ser humano é um animal social por natureza. Comunicar e conhecer são duas de suas necessidades mais importantes. Para exercitá-las, ao longo do tempo foram desenvolvidas técnicas e jogos que melhoraram a forma como se comunica e como se conhece. Ele pode fazer isso tanto pelo seu prazer pessoal, quanto pela necessidade de resolver problemas práticos do dia a dia. Alguns dos problemas práticos que se tem na vida em sociedade são estabelecer acordos, realizar projetos, enviar instruções, supervisionar e divulgar resultados.

Devido ao caráter “material” da escrita, já que tratam-se de símbolos que necessariamente estarão em alguma forma de registro, seja a impressão num papel ou um arquivo digital em um dispositivo eletrônico, ela possui uma permanência no tempo e no espaço que a palavra falada não possui, a menos que seja registrada em equipamentos adequados, os quais não existiam até um século atrás. Este talvez seja o grande trunfo da escrita sobre a fala, a possibilidade de ser revista mais tarde, independentemente de se ter memória do evento que ocasionou a escrita.

Não é preciso pensar muito para perceber o quanto essa característica da escrita é importante quando se trata de firmar um acordo, por exemplo. Ela será a prova para ambas as partes envolvidas de que o acordo foi estabelecido e poderá ser usada para proteger os direitos e prevenir contra o não cumprimento dos deveres dos envolvidos. A Justiça deste modo pode dar um passo adiante, pois não dependeria apenas da existência de testemunhas idôneas ou da reputação das partes como provas para chegar a um veredito, haveriam registros materiais dos pensamentos e intenções dos indivíduos.

Outro fator que emerge da materialidade da escrita é o seu alcance. Uma carta pode ser levada através do oceano e encontrar alguém com quem o escritor jamais se encontrou pessoalmente. Uma conversa podia acontecer sem que os interlocutores tivessem que se encontrar obrigatoriamente. Ideias podiam circular fora das cabeças das pessoas que as tinham e encontrar outras mentes nas quais poderiam fazer eco.

Então, as consequências da materialidade da escrita – alcance e permanência no tempo – trouxeram um efeito colateral muito interessante e que mudou drasticamente a forma de ver o mundo: o indivíduo podia agora rever seus pensamentos de outro ponto de vista. Ele agora era livre para registrar suas ideias, mas na medida em que as registrava se deu conta de que também pensava sobre o registro que fazia, ou seja, pensava sobre o que pensava sem a necessidade de um interlocutor. O escritor imprimia suas ideias e o papel lhe servia de espelho para o seu próprio pensamento, e assim como os dançarinos que se aprimoram ao dançar diante de espelhos, identificando movimentos imprecisos, o escritor podia corrigir suas linhas de raciocínio, elaborar sua oratória, ser seu próprio ouvinte, mesmo que em completo silêncio. Podia emancipar-se de si e tornar-se livre, mesmo que no carcere. De técnica, a escrita fez-se arte, pois pode através da matéria compartilhar os sentimentos da alma e fazer conhecer as almas dos desconhecidos, tornando sua existência verdadeiramente imortal.